Postagens

Mostrando postagens de abril, 2010

Liar Lady

Luz na passarela que lá vem ela: Liar lady, sua mentirosa. Ela me promete verba, merda, merda, que merda. Me promete espaço e esse barraco, vaca, vaca. Eu me digo sempre: mulher, janela, homem, porta. E aqueto um pouco. Quero fugir dessa reuniãozinha arcondicionada e instituir o dia das coisas feitas com as próprias mãos. Pó, pó, pó e pó. E nada. Onde foram palavras parar os livros deste lugar, ora palavras, que são necessárias? E ela volta, todos os dias nos seus saltos fincados em nossas cabeças. CORTE A SUA CABEÇA E OFEREÇA À ELA, DE BANDEJA. Lisa, ela fala com palavras recheadas de laquê e chapinha fervente, gente... isso é ótimo. Isso nos convence, irreversivelmente. Lava as mãos com spray álcool gel, sabor cereja fresh mint: frescor no seu rosto de papel film transparente inviolável nas rugas da vergonha aparente. As luzes se apagam e ela fica, lívida, segurando seu celular, sem cobertura e sinal, esperando alguém lhe conectar. Letícia Andrade.

Duas narrativas vagabundas

Filho da puta Um filho da puta é alguém que mexe contigo quando você está quieto. Porque não tem nada melhor pra fazer a não ser te apurrinhar. Te chutar quando ninguém está olhando. Um verdadeiro filho da puta que está por cima da carne seca. Um filho da puta é o cafajeste que dorme com uma mulher e a deixa ir embora no meio da noite fria. Ele merece ser capado. Uma filha da puta é a vadia que se deita com o primeiro homem que lhe dá trela no meio da noite. Ela merece ir embora no frio. Um filho da puta é o cara que divide a conta com a garota e ainda tem a cara de pau de pegar seu troquinho mixuruca. Filho da puta unha de fome. Um filho da puta é o cara que desgarrega a mãe num asilo, enquanto se casa com a mulherzinha em tons pastéis dos seus sonhos de margarina. Filho da puta depravado. Um filho da puta é aquele que se deixa de ser seu amigo porque agora tá pegando sua ex-namorada, que antes ele detonava sem parar. Uma filha da puta é aquela que depois de gozar, amarra seu sorriso

Um Homem de bem (narrativa de Letícia Andrade)

Não sei dizer, só sei o que sai pela minha boca e nasce aqui dentro e atravessa esse ar, que carrega todas as pressas e desconfianças do mundo, é tudo que tenho. Se tenho pouco ou muito, não quero mais ter certeza, mas é o que vou começar agora. Ele caminhava a esmo e ruminava essas palavras, carregando seus jornais de volta para casa. Cometerei, comerei e estacionarei. Minhas cuecas úmidas, calças desbotadas e camisas amareladas, meus vinis empoeirados penduradas atrás da geladeira brastemp, que era de meu pai, meus livros sem notas de pé de páginas, limpos de palavras de difícil acesso. Tudo que tenho é o que preciso? Entra na sala e a mesa posta é solitária, mas ele tem mais o que fazer. Não pensa e pensa. O tempo todo. Tem que ocupar a mesa com o jantar do dia. Ovo frito, com banana e canela, é o jantar de hoje. Há muito o que se fazer hoje. Quebra os dois ovos e se lembra da vergonha da derrota do dia, abre e corta as bananas e se lembra da falta de argumentos e do seu orgulho fer